Por Marcello Sampaio – Coluna Cidade em Alerta – Jornal e Portal Tribuna da Cidade
Em um escândalo que expõe o colapso da saúde pública na capital paranaense, socorristas do Corpo de Bombeiros e do SAMU denunciaram um atraso absurdo de quase duas horas para conseguir entregar vítimas em estado grave no Hospital do Trabalhador, em Curitiba. O episódio chocante ocorreu na noite desta segunda-feira (28) e reacende o alerta sobre a falência do sistema de urgência e emergência no Paraná.
Cinco ambulâncias, com pacientes em macas, ficaram paradas na porta do hospital aguardando liberação para atendimento. O resultado: vítimas agonizando no interior das viaturas, bombeiros sem conseguir retornar às ruas, e um sistema inteiro travado.
“Isso compromete totalmente nosso trabalho. Se as ambulâncias estão presas na porta do hospital, quem socorre o próximo ferido?”, desabafou um subtenente do Corpo de Bombeiros, indignado com a situação.
FALTA DE ESTRUTURA ESCANCARADA
Segundo os relatos colhidos pelo Tribuna da Cidade, a falta de estrutura hospitalar, somada à ausência de leitos suficientes e equipes sobrecarregadas, tem feito cenas como essa se tornarem rotineiras em Curitiba. Os socorristas apontam que há décadas o número de hospitais não cresce, mesmo com o aumento exponencial da população e da violência urbana.
“Estamos há 30 anos com os mesmos três hospitais recebendo vítimas de trauma. A cidade cresceu, o número de acidentes aumentou, e os hospitais continuam os mesmos. Resultado? Vidas estão sendo colocadas em risco!”
O PREÇO DO DESCASO: PACIENTES PERDEM O ‘PERÍODO DE OURO’
A demora em transferir as vítimas para dentro do hospital compromete o que os especialistas chamam de “período de ouro” – os minutos cruciais após um trauma, onde um atendimento rápido pode ser a diferença entre a vida e a morte.
“A ambulância fica parada e o paciente, muitas vezes em estado crítico, perde o tempo precioso para receber socorro adequado. Isso é inadmissível”, alertou o subtenente de plantão.
HOSPITAL ATRASOU POR “EXCESSO DE CASOS GRAVES”
De acordo com informações repassadas aos próprios bombeiros, a direção do Hospital do Trabalhador alegou que o problema ocorreu porque três casos graves chegaram ao mesmo tempo, sobrecarregando a capacidade de resposta da unidade. Porém, isso não justifica o colapso na recepção dos pacientes e evidencia que o sistema está à beira de um colapso absoluto.
POSICIONAMENTO OFICIAL
Em nota à imprensa, a Secretaria de Estado da Saúde admitiu que houve um pico no número de atendimentos por trauma e que isso gerou atrasos. A pasta tentou minimizar o impacto, dizendo que todos os pacientes foram atendidos, mas não negou a demora nas entradas.
Segundo o comunicado, esse tipo de situação “faz parte da dinâmica das unidades especializadas em trauma”, e que “não houve desassistência hospitalar”.
No entanto, para os profissionais que estavam nas ambulâncias e as vítimas que agonizavam, essa resposta soa como deboche.
A PERGUNTA QUE FICA:
Até quando a população de Curitiba e Região Metropolitana vai pagar com o próprio sangue a conta da negligência estrutural?
Quantas mortes serão necessárias para que se amplie a rede de atendimento?
Quem vai responder caso alguém morra em uma maca dentro de uma ambulância, estacionada em frente ao hospital sem atendimento?
Jornal Tribuna da Cidade – A voz que denuncia o que querem esconder.
Reportagem de Marcello Sampaio – Coluna Cidades