Por Marcello Sampaio – Coluna Política em Pauta | Tribuna da Cidade
O primeiro semestre de 2025 caminha para ser um dos mais improdutivos da história recente do Congresso Nacional. A avaliação é unânime entre parlamentares ouvidos pela Tribuna da Cidade: a sensação é de que o Legislativo sequer retornou efetivamente das férias de fim de ano.
Dados consolidados até abril apontam que, na Câmara dos Deputados, foram aprovadas apenas 15 proposições em plenário — número significativamente inferior à média histórica para o mesmo período. No Senado, a situação não é diferente: apenas 12 matérias passaram pelo crivo dos parlamentares. Somando as duas Casas, são 27 proposições aprovadas em quatro meses, número considerado irrisório frente às demandas do país.
Parlamentares da base e da oposição atribuem a lentidão a diversos fatores: o prolongado processo de recomposição das comissões permanentes, a demora na instalação de CPIs, o clima pré-eleitoral nos municípios e as tensões entre o governo federal e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Há uma paralisia institucional travestida de normalidade. É como se o Congresso estivesse em marcha lenta por opção”, avaliou um deputado que pediu anonimato.
Outro fator que contribui para o esvaziamento dos trabalhos legislativos é a priorização de pautas pouco relevantes ou simbólicas, enquanto projetos estruturantes — como as reformas tributária complementar, administrativa e medidas de estímulo à economia — seguem sem avanços concretos.
Analistas políticos também destacam a crescente judicialização das pautas e a expectativa de que o Supremo Tribunal Federal (STF) resolva questões que seriam de competência do Legislativo. Esse movimento enfraquece o papel institucional do Congresso e contribui para sua paralisia.
A baixa produtividade preocupa não apenas por seu impacto imediato, mas também pelos riscos que representa à governabilidade e à credibilidade das instituições. Em ano pré-eleitoral, a tendência é de que o ritmo continue travado, com parlamentares mais focados em suas bases do que no trabalho legislativo.
Se não houver uma guinada nos próximos meses, 2025 poderá entrar para a história como o ano em que o Congresso tirou férias prolongadas — às custas da população brasileira.