Construtor autodidata que produziu milhares de pianos em Curitiba quer transformar sua antiga fábrica em centro cultural. Homenagem marca aniversário do mestre
Curitiba (PR) — “Nasci pobre, curioso e inteligente.” É com essa frase direta e afetuosa que Caetano Primo Trevisan costuma resumir seus quase cem anos de vida — completados nesta semana. Aos 96 anos, o mestre dos pianos recebeu uma homenagem especial do Grupo GVPCOM, pelo conjunto de sua obra e pela vitalidade de seu sonho: criar o primeiro Museu do Piano do Brasil.

Trevisan é mais do que um exímio artesão. É inventor, gestor, operário, artista. Durante décadas, liderou a produção na Fábrica de Pianos Schneider, nascida de uma dissidência da Essenfelder, e ajudou a manter viva a tradição do piano acústico no Brasil. Com ele, a fábrica produziu mais de 8.800 instrumentos. Alguns ainda soam mundo afora.

Ele também inventou o piano desmontável, para driblar o transporte caro e difícil. Criou máquinas próprias, como uma engenhoca que calculava e cortava teclas com precisão de computador — nos anos 50. “Era como se eu tivesse engolido um piano inteiro”, resume.
Hoje, ao caminhar pela antiga fábrica, Caetano ainda se emociona. Seus olhos brilham quando fala do Museu do Piano, seu novo projeto. A ideia é simples e mágica: abrir o espaço para o público ver um piano nascer do zero, aprender, tocar, participar. “Máquina e arte, juntas”, diz.

O CEO do GVPCOM, Marcello, destacou o simbolismo do momento:
“Aos 97 anos, seu Caetano segue ensinando com generosidade e criatividade. A história dele é um tesouro. Essa homenagem é só um reflexo do quanto ele merece.”
Mas o sonho ainda precisa de apoio. A estrutura está ali — máquinas guardadas, madeira repousando, conhecimento vivo. Falta investimento, parceria, incentivo. A cidade — e o país — têm a chance de transformar a antiga fábrica em um templo da arte, da engenharia e da educação.
Caetano tem pressa. Mas também tem fé.
“Enquanto falo aqui, pelo menos um piano Schneider está sendo tocado em algum lugar do mundo.”

