Calçadas Esquecidas e Mato Alto: O Descuidado Retrato de Araucária

Por Marcello Sampaio – Coluna “Cotidiano e Mobilidade Urbana” | Tribuna da Cidade

O que era para ser um caminho seguro e digno para a população de Araucária transformou-se em um verdadeiro obstáculo diário. As calçadas quebradas, a grama alta e a falta de acessibilidade expõem o abandono da cidade pela atual administração municipal.

Nas principais vias, especialmente nas proximidades do Batalhão da Polícia Militar, a situação é ainda mais gritante. O mato alto encobre passeios, empurra pedestres para a pista e ameaça a segurança de quem apenas deseja exercer o direito de ir e vir com dignidade. A situação gera indignação entre moradores e levanta uma questão inevitável: será que o descaso é proposital, já que o ex-prefeito Hissan mora ao lado do batalhão? Fica a pergunta.

“É como se o pedestre não existisse”

Assim como em outras cidades, como mostrado em estudos de Brasília, Araucária também sofre pela falta de um planejamento urbano que respeite o pedestre. A administração pública parece ignorar a determinação do Código de Trânsito Brasileiro, que coloca o pedestre no topo da prioridade viária. O resultado? Ruas e avenidas que desrespeitam a mobilidade urbana, expondo idosos, crianças e pessoas com deficiência a riscos constantes.

Nas imediações do bairro Fazenda Velha, Costeira, e no próprio Centro, o cenário se repete: passeios esburacados, ausência de faixa para caminhada e, principalmente, calçadas tomadas pelo matagal.

Onde estão as calçadas?

De acordo com urbanistas, a calçada ideal deve ter, no mínimo, 1,2m de largura livre, com área de proteção gramada entre o passeio e a rua para instalação de postes e placas. Em Araucária, o que se vê é o oposto: postes, lixo e vegetação ocupam o pouco espaço destinado aos pedestres.

“É revoltante ver como a cidade foi deixada. Araucária merece mais respeito. Esse matagal em frente ao Batalhão da PM é um absurdo. E estranho que justamente na rua do ex-prefeito não haja manutenção. Será coincidência?”, questiona um morador da região, que preferiu não se identificar.

O que dizem os especialistas

Especialistas em urbanismo são unânimes: investimentos em calçadas seguras e ciclovias são mais baratos e eficazes para a mobilidade urbana do que apenas abrir novas ruas e avenidas para carros. Cidades que respeitam o pedestre geram qualidade de vida, segurança e inclusão.

Flávio Dias, do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes (Ceftru), afirma:
“Cerca de 38% das saídas das pessoas são a pé. Quando se negligencia isso, se empurra a população para o transporte individual e se agravam todos os problemas urbanos.”

Araucária, que já foi referência em qualidade de vida, parece ter esquecido dessa lógica simples.

O mato alto em frente ao Batalhão da Polícia Militar, a ausência de manutenção nas calçadas e o abandono generalizado são reflexos de uma gestão que negligencia o básico. E enquanto os responsáveis tentam explicar o inexplicável, os cidadãos seguem arriscando a vida todos os dias.

Fica a pergunta: seria isso uma simples falha administrativa ou há interesses velados nessa falta de cuidado, principalmente perto de quem já ocupou o poder?

Créditos:
Reportagem de Marcello Sampaio | Coluna “Cotidiano e Mobilidade Urbana” | Jornal e Portal Tribuna da Cidade

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