A promessa de renovação política em Araucária desmoronou junto com os barracos da ocupação desmontada a mando do prefeito Gustavo Botogoski. Em um dos episódios mais violentos e autoritários dos últimos anos, dezenas de famílias foram expulsas sem aviso prévio, com tratores destruindo lares improvisados erguidos com esforço e desespero. A ação da prefeitura evidencia um modelo de gestão truculento, elitista e excludente, onde quem não se encaixa na cartilha do poder é tratado como inimigo.
Durante a campanha, Botogoski prometeu “moradia digna para todos” e afirmou em diversas entrevistas que ninguém seria removido à força. Porém, poucos meses após eleito, autorizou uma verdadeira operação de guerra contra os mais pobres, ignorando completamente as promessas de diálogo e inclusão social.
“Eles chegaram como quem vai para o abate”
A cena foi descrita por testemunhas como assustadora e desumana. Caminhões e tratores invadiram a ocupação ao amanhecer. Sem qualquer ordem judicial visível ou plano de realocação, a prefeitura deu início à demolição.
“Eles chegaram como quem vai para o abate. Derrubaram tudo. Minha filha especial ficou sem os remédios. A gente só conseguiu salvar uma bolsa de roupas”, relata Dona Cleide, moradora atingida.
“Falaram que a gente era invasor, que não merecia estar aqui. Mas a gente só queria um teto”, conta Lucas, jovem pai de dois filhos pequenos.
Discurso de campanha virou entulho
O mesmo Botogoski que distribuía batatas e promessas nas ruas da ocupação durante a eleição, hoje se esconde atrás de decretos e contratos de demolição. A contradição entre a fala e a prática é gritante. A esperança que ele plantou nas urnas virou entulho de lona, madeira e tijolos quebrados.
O novo prefeito, a velha política
Apesar da troca de comando, as práticas de perseguição aos pobres e controle político à moda antiga seguem intactas. Araucária permanece refém de uma estrutura coronelista, onde direito à moradia só é concedido a quem atende a critérios políticos não escritos, mas amplamente praticados.
“Aqui não aceitamos invasores. Quem não é de Araucária, que volte pra sua terra. Moradia é pra quem tem mais de 20 anos na cidade, quem vota aqui e ajuda a construir essa comunidade”, declarou um alto funcionário da Secretaria de Urbanismo, sob anonimato.
Esse pensamento retrógrado e discriminatório revela o verdadeiro projeto de cidade em curso: exclusão social institucionalizada, onde pobre migrante é tratado como criminoso e políticas públicas são moeda de troca política.
Oposição reage, mas poder cala
O vereadores da oposição, criticaram duramente a postura da prefeitura:
“Não se governa com retroescavadeira. A função do poder público é garantir dignidade, não destruir vidas. Essa gestão está atropelando o povo como se fosse entulho.”
O Ministério Público do Paraná estuda abrir investigação por violação de direitos humanos e uso excessivo da força. Conselhos populares e coletivos urbanos também organizam protestos e denúncias em instâncias superiores.
Até quando?
O caso expõe uma cidade onde a justiça social é condicionada ao CEP e ao título de eleitor. Onde a máquina pública serve aos mesmos grupos há décadas, apenas trocando os rostos à frente. Onde a fome, a pobreza e o desespero são tratados com repressão, não com políticas públicas reais.
A demolição dos barracos foi mais do que uma ação administrativa: foi a quebra de um pacto de confiança, a destruição física e simbólica de sonhos — sonhos que um dia foram alimentados por promessas eleitorais.
Até quando Araucária continuará sendo governada por quem vê o povo como problema?
Até quando os pobres serão tratados como invasores em sua própria terra?
Até quando?
Reportagem de Marcello Sampaio – Coluna Política em Pauta
Jornal e Portal Tribuna da Cidade
Especialista em política, segurança publica, habitação e direitos humanos