Por Marcello Sampaio – Coluna Educação | Portal e Jornal Tribuna da Cidade
A história de Tayrine Novak, mãe da pequena Thaylla, de 9 anos — diagnosticada com doença celíaca em grau máximo — ganhou as ruas de Araucária e gerou comoção e indignação por parte da população. A situação escancarou a falta de sensibilidade da Prefeitura diante de casos que envolvem saúde, alimentação e direitos fundamentais.
A crise explodiu depois que Tayrine enviou um bolo de cenoura sem glúten para a filha comer na Escola Municipal Professora Egpciana Swain Paraná Carrano. O que era para ser um cuidado virou motivo de repreensão, denúncias e uma sequência de constrangimentos que agora deve parar na Justiça.
Linha do tempo do embate entre família e Prefeitura
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2023: Tayrine começa a procurar respostas para os sintomas da filha. Após anos de exames e especialistas, vem o diagnóstico: doença celíaca em grau máximo.
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Março de 2024: Exames revelam que Thaylla está sendo contaminada por glúten mesmo com o cardápio “especial” da escola. Laudos médicos confirmam o risco de contaminação cruzada.
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Abril de 2024: Mãe decide preparar toda a alimentação da filha em casa, mas encontra resistência da escola, que insiste no uso da merenda fornecida pelo município.
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Agosto de 2024: Reunião no Ministério Público do Paraná (MPPR) define que a escola deve enviar o cardápio com antecedência semanal. Isso, segundo Tayrine, nunca foi cumprido.
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Abril de 2025: Após novo impasse envolvendo o envio de um bolo de cenoura feito em casa, uma denúncia de outra mãe gera novo desgaste. Tayrine torna o caso público em suas redes sociais.
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Abril de 2025: A defesa da família anuncia ação judicial contra o Município e pedidos formais ao MPPR, além de procedimentos disciplinares contra a Secretaria de Educação.
A VOZ DAS RUAS: A POPULAÇÃO SE MANIFESTA
A repercussão do caso nas redes sociais despertou a fúria e a empatia de muitos moradores de Araucária. O Portal e Jornal Tribuna da Cidade ouviu algumas dessas vozes:
“Isso é desumano. Uma criança de 9 anos passando por esse estresse todo, por falta de preparo e empatia. A Prefeitura deveria era proteger, não punir uma mãe que só quer o melhor pra filha.”
— Regiane Souza, comerciante e mãe de dois filhos na rede municipal
“Eu fiquei indignado com o que vi nas redes. Como é que uma mãe que cuida da filha vira alvo da escola? A menina está doente! A Prefeitura tem que parar de passar pano e assumir a responsabilidade.”
— Luiz Antônio Bezerra, aposentado e morador da região do Costeira
“A gente paga imposto, vê escolas sendo reformadas com milhões e na hora que precisa de uma atenção básica com a alimentação de uma criança, fazem pouco caso. Isso tem nome: negligência.”
— Camila Braga, técnica de enfermagem
“Meu filho também tem restrição alimentar, e sei o que essa mãe está passando. A escola até tenta, mas falta capacitação e estrutura. E quando a gente reclama, eles tratam como se fosse frescura.”
— Jéssica Oliveira, moradora do Tupy e mãe de aluno com intolerância à lactose
AÇÕES JUDICIAIS E PRONUNCIAMENTOS
A defesa da família — representada pelos advogados Eduardo Cardoso Kivel, Daniel J. Kaefer e Eder Fior — anunciou uma série de medidas:
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Ação judicial contra a Prefeitura por violações constitucionais e alimentares;
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Pedido de abertura de procedimentos disciplinares contra os gestores da escola e da Secretaria de Educação;
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Representação no Ministério Público do Paraná (MPPR) para garantir a proteção integral da menor.
Segundo os advogados, a situação representa um “cenário de omissão institucional”, em que a escola “falhou ao garantir a segurança alimentar da aluna mesmo diante de laudos médicos claros e específicos”.
“O município insiste em um modelo único de atendimento, desconsiderando que, no caso da Thaylla, o risco de contaminação cruzada é grave. Não se trata de capricho, mas de um direito garantido por lei”, disse o advogado Daniel Kaefer.
POSICIONAMENTO DA PREFEITURA
Em nota enviada a IMPRENSA, a Prefeitura alegou que ofereceu quatro alternativas para resolver o impasse:
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Uso do cardápio especial da escola;
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Fornecimento de ingredientes para preparo caseiro;
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Permissão para levar marmita semelhante ao cardápio escolar;
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Isolamento da criança durante as refeições.
A Prefeitura ainda afirmou que a mãe recusou todas as opções e “expos o caso de forma parcial nas redes sociais”. Uma sindicância foi anunciada para apurar os relatos de contaminação cruzada, “que até o momento não haviam sido oficialmente registrados”.
UMA CIDADE QUE PEDE RESPEITO
Enquanto a briga jurídica começa, o caso de Thaylla escancarou algo maior: a fragilidade da rede pública diante de condições alimentares especiais. Em uma cidade com mais de 18 mil estudantes na rede municipal, o mínimo que se espera é que todas as crianças possam estudar com dignidade e segurança.
A luta de Tayrine não é isolada. É de toda mãe que enfrenta a burocracia para cuidar do filho. É de cada família que exige respeito. E é de uma comunidade que cobra empatia, responsabilidade e ação.