Gaeco volta a agir no caso Detran: escritório de advocacia é alvo de busca e apreensão em Curitiba

TRIBUNA DA CIDADE – EDITORIA INVESTIGAÇÃO E JUSTIÇA
Por Marcello Sampaio | Atualizado em 14 de maio de 2025

Na tarde desta terça-feira, 13 de maio, um escritório de advocacia de Curitiba foi alvo de nova ação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A operação é um desdobramento das investigações em curso sobre fraudes no Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), vinculadas à Operação Taxa Alta, deflagrada em 2019. A busca e apreensão foi autorizada pela Central de Garantias Especializada da capital, com base em pedido do Ministério Público do Paraná (MPPR).

O objetivo da diligência foi investigar possíveis repasses financeiros feitos por uma empresa ao escritório, que poderiam ter sido utilizados para viabilizar vantagens indevidas a ex-servidores do Detran-PR.

Todos os materiais recolhidos serão periciados e analisados. A investigação segue em sigilo judicial.

Linha do tempo: a fraude no Detran do Paraná

Novembro de 2018 a Junho de 2019

  • A empresa investigada obteve credenciamento para o serviço de registro eletrônico de contratos com cláusulas de alienação, praticamente monopolizando a atividade.

  • Lucro estimado da empresa no período: R$ 77 milhões.

  • Valor cobrado dos consumidores: R$ 350 por contrato — mais do que o dobro dos valores anteriores à licitação (R$ 150).

  • O credenciamento foi solicitado 24 horas após o lançamento do edital, levantando suspeitas sobre direcionamento no processo.

20 de novembro de 2019 — Deflagração da Operação Taxa Alta

  • O Ministério Público do Paraná executa a primeira fase da operação.

  • Mandados cumpridos:

    • 5 prisões temporárias

    • 7 buscas e apreensões

  • A operação mirou o credenciamento nº 001/2018, homologado em agosto de 2018, por suspeita de manipulação para beneficiar empresas específicas.

Envolvidos na investigação original (2019):

  1. Marcos Traad – Ex-diretor-geral do Detran-PR na época dos fatos

  2. Carlos Eduardo Gomes – Servidor comissionado à época

  3. Fábio de Oliveira – Servidor comissionado

  4. Renato Luiz Faria – Servidor comissionado

  5. Rafael Diogo Resende – Ex-assessor da Governadoria do Estado

Além deles, foram alvos de busca residências em Curitiba, Maringá e Brasília, e a sede de uma empresa na capital federal.

2024-2025 – Novos desdobramentos

  • O Ministério Público aprofunda a investigação financeira.

  • Identifica-se que recursos repassados a um escritório de advocacia podem ter sido desviados para o pagamento de propina a servidores públicos.

  • A operação da última terça-feira (13) representa a reabertura de frentes operacionais contra o esquema de corrupção no Detran-PR, com foco na lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio ilícito.

O esquema: favorecimento, monopólio e superfaturamento

As apurações do Gaeco, em conjunto com a 4ª Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público de Curitiba, demonstram que:

  • Servidores do Detran manipularam o credenciamento de empresas para o registro eletrônico de contratos.

  • Um dos beneficiários havia sido funcionário de outra empresa ligada ao sócio-diretor da firma vencedora, configurando conflito de interesses e tráfico de influência.

  • O processo licitatório teria sido simulado para parecer competitivo, mas na prática favorecia uma única empresa, que depois dominou o mercado.

Situação atual

  • A nova fase da operação foca na investigação de movimentações financeiras ilícitas entre empresa e escritório de advocacia.

  • O Gaeco busca comprovar a rota do dinheiro usado para pagar propina a servidores públicos.

  • A apuração inclui análise de documentos, registros bancários e contábeis, que podem revelar novos nomes e conexões no esquema.

 O que pode acontecer agora?

Com base no material apreendido nesta nova fase:

  • Novos denunciados podem surgir.

  • Antigos envolvidos podem ser reindiciados por crimes adicionais, como lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e fraude à licitação.

  • A expectativa é que novos pedidos de prisão preventiva ou quebra de sigilo fiscal e bancário ocorram nos próximos meses.

Marcello Sampaio
Tribuna da Cidade – Especial para a Editoria de Investigação e Justiça

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