Exclusivo: Sócio do “Careca do INSS” tem ligações com empresário Paulo Octávio

Exclusivo: Sócio do “Careca do INSS” tem ligações com empresário Paulo Octávio e estaria no centro do escândalo bilionário da Previdência
Por Marcello Sampaio – Direto da Redação | Jornal Tribuna da Cidade
15 mai 2025 – 13h40

A teia de corrupção que sacudiu as estruturas do INSS agora atinge em cheio o alto empresariado brasiliense. Uma investigação explosiva obtida com exclusividade pelo Tribuna da Cidade revela que Milton Salvador de Almeida Júnior, ex-diretor financeiro das Organizações PaulOOctávio e atual executivo da TV Brasília, é sócio do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, mais conhecido como o infame “Careca do INSS”.

O escândalo, já considerado um dos maiores da história recente da Previdência Social, gira em torno de um esquema bilionário de descontos ilegais em aposentadorias de segurados, com propinas milionárias pagas a diretores do INSS. E Milton Júnior está no epicentro desse furacão.

O vínculo milionário

Milton Júnior é sócio de Antonio Carlos em pelo menos oito empresas, três das quais já estão sendo diretamente investigadas pelas autoridades federais: Prospect Consultoria Empresarial, Acca Consultoria Empresarial e Truetrust Call Center (também registrada como ACDS Call Center).

As três empresas aparecem em documentos da Polícia Federal, da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Advocacia-Geral da União (AGU) como engrenagens essenciais no esquema que fraudava aposentadorias em massa. De acordo com relatório da CGU, essas entidades estariam ligadas a entidades fantasmas que, sem autorização, filiavam aposentados e descontavam valores mensalmente de seus benefícios.

Uma dessas entidades, a Abapen (Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas da Nação), chegou a registrar mais de 250 mil filiações em abril de 2024 — o equivalente a 1.569 cadastros por hora —, número que a CGU considera “impossível de ser feito manualmente e sem autorização expressa”.

Propina, sorteios e manipulação

As revelações mais escabrosas envolvem o núcleo operacional do esquema. Segundo investigações, a Prospect, empresa ligada a Milton e ao “Careca do INSS”, estaria por trás de um clube de benefícios que prometia sorteios mensais de até R$ 15 mil aos “associados” da Abapen. Tudo isso enquanto os descontos eram feitos sem consentimento, drenando recursos de aposentados em todo o país.

A Acca, por sua vez, teria recebido R$ 4 milhões de entidades ligadas à fraude. Já a Truetrust Call Center é investigada por manipular o sistema de atendimento ao aposentado, filtrando e abafando denúncias de descontos ilegais.

A AGU já pediu à Justiça Federal o bloqueio de bens de oito pessoas físicas e seis empresas, incluindo Milton Júnior e Antonio Carlos. O valor da propina movimentada pelo grupo, segundo a apuração, gira em torno de R$ 23,8 milhões — dinheiro supostamente repassado a diretores do INSS e seus intermediários.

A conexão com Paulo Octávio

O mais intrigante é a ligação entre Milton Júnior e o empresário Paulo Octávio, figura central da elite política e econômica do Distrito Federal. Por mais de 15 anos, de 2006 a 2021, Milton se apresentava como diretor financeiro e administrativo das Organizações PaulOOctávio. Atualmente, ele atua na TV Brasília, também controlada por Paulo Octávio, como responsável por auditorias.

Milton também foi sócio da Santiago Empreendimentos Imobiliários S/A, empresa da qual Paulo Octávio era presidente. A firma, que atuava no ramo de incorporação e construção de imóveis, foi extinta em 2019.

Diante do escândalo, as Organizações PaulOOctávio se apressaram em emitir nota: “A BMJ Consult, empresa de Milton Salvador de Almeida Júnior, presta serviços de auditoria na TV Brasília. Até 2021, prestou serviços similares em outras empresas do grupo. Informamos que Milton nunca foi funcionário das Organizações PaulOOctávio, atuando como interface externa com a BMJ”.

Ainda segundo o grupo empresarial, “desconhece-se qualquer vínculo societário entre Milton Salvador de Almeida Júnior e Antonio Carlos Camilo Antunes”.

A operação e os desdobramentos

As investigações federais culminaram na Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal no dia 23 de abril, com base em 38 reportagens que revelaram a farra dos descontos e as entidades fantasmas. A ofensiva levou à queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e ao afastamento do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

Segundo dados levantados, o esquema teria movimentado cerca de R$ 2 bilhões em apenas um ano. As associações envolvidas enfrentam milhares de processos judiciais movidos por aposentados que sequer sabiam que haviam sido filiados.

O silêncio dos acusados

Até o momento, os demais envolvidos – incluindo Antonio Carlos Camilo Antunes e Romeu Carvalho Antunes, outro sócio da Prospect e da BSB Consultoria – não se pronunciaram publicamente. A reportagem do Tribuna da Cidade continua tentando contato com os investigados. O espaço segue aberto para manifestação.

O que parecia um esquema técnico e discreto, agora escancara conexões profundas entre os bastidores da Previdência e o topo da elite empresarial de Brasília. E a pergunta que ecoa em meio às apurações é: quantos sabiam – e se calaram?

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