Por Marcello Sampaio – Plantão de Educação | Direto da Redação
Com o objetivo de pressionar o governo estadual a cumprir compromissos salariais e promover melhorias nas condições de trabalho, os(as) professores(as) e funcionários(as) da rede estadual do Paraná aprovaram uma paralisação geral no próximo dia 29 de abril. A decisão foi tomada em assembleia extraordinária convocada pela APP-Sindicato no último sábado (12), com participação de educadores(as) de todas as regiões do estado.
O movimento não apenas reivindica o pagamento da data-base, que está congelada desde 2017, como também marca os 10 anos do trágico episódio conhecido como o Massacre do Centro Cívico, quando centenas de servidores públicos foram violentamente reprimidos durante um protesto em 2015.
Reflexos na comunidade escolar
A paralisação já movimenta os bastidores das escolas estaduais. Em várias cidades, a preparação inclui reuniões, panfletagens e organização de caravanas para o grande ato em Curitiba. No entanto, o impacto da mobilização vai além das reivindicações salariais — ele ecoa nos corredores das escolas e na vida dos alunos, pais e comunidade.
Depoimentos colhidos junto à comunidade demonstram a tensão e os motivos que sustentam o movimento.
“Chegamos a um ponto insustentável. Além do congelamento salarial há quase uma década, temos que lidar com sobrecarga, plataformas digitais mal estruturadas e o medo constante de adoecer ou ser perseguido por cobrar nossos direitos”, desabafa a professora Luciana Ferreira, que leciona há 18 anos na rede estadual, em Ponta Grossa.
Segundo Luciana, a paralisação é uma resposta coletiva à desvalorização. “É mais do que salário. É dignidade, é a defesa da escola pública de qualidade”, completa.
Os alunos também sentem
Para muitos estudantes, a paralisação traz incertezas, mas também abre espaço para conscientização.
“No começo, fiquei preocupado em perder aula. Mas depois que vi o que os professores estão enfrentando, entendi que eles também precisam lutar. Se eles não forem valorizados, como vamos ter uma boa educação?”, questiona Rafael Silva, estudante do 2º ano do Ensino Médio em Araucária.
Outros alunos planejam se juntar à mobilização. Grupos estudantis organizam debates e rodas de conversa nas escolas para discutir o papel da educação pública e o legado do protesto de 2015.
Pais divididos
Na comunidade, a paralisação causa reações distintas entre os pais.
“Claro que nos preocupa a interrupção das aulas, mas é importante lembrar que isso é resultado de anos de descaso. Se o governo escutasse os professores, não precisaria chegar a esse ponto”, afirma Marta Lopes, mãe de dois filhos matriculados na rede pública em Londrina.
Já outros pais, como João Batista, mostram preocupação com os efeitos imediatos: “A gente entende o lado deles, mas tem pai e mãe que não tem com quem deixar os filhos, e isso complica. É uma situação difícil para todo mundo.”
Impacto esperado e mobilização crescente
A APP-Sindicato estima que milhares de educadores(as) devem aderir à paralisação em todo o estado. A concentração principal ocorrerá em Curitiba, com manifestações em frente ao Palácio Iguaçu. Além da data-base, a pauta da greve inclui:
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Pagamento do piso nacional do magistério para ativos e aposentados
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Equiparação salarial com outras categorias do serviço público
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Revogação da taxação previdenciária nos salários abaixo do teto do INSS
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Abertura de novas vagas para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)
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Fim da plataformização do ensino e combate à privatização da educação
“Essa paralisação é um grito de resistência. Se há 10 anos fomos massacrados fisicamente, hoje estamos sendo massacrados emocionalmente, economicamente e profissionalmente”, diz a presidenta da APP, Walkiria Mazeto.
O que pode acontecer?
A paralisação pode causar:
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Suspensão temporária de aulas em centenas de escolas estaduais
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Reprogramação do calendário letivo
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Aumento na pressão política sobre o governo Ratinho Júnior
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Repercussão nacional, dado o simbolismo do protesto vinculado aos 10 anos do Massacre do Centro Cívico
O governo do Estado ainda não se manifestou oficialmente sobre a paralisação aprovada, mas representantes da Secretaria de Educação participaram de reuniões anteriores com o sindicato, sinalizando diálogo limitado.
Nota final:
A paralisação do dia 29 de abril será um marco para o movimento educacional no Paraná. Ela representa uma tentativa de fazer o governo estadual ouvir uma categoria que se sente abandonada e desvalorizada. E enquanto as salas de aula silenciam por um dia, vozes de resistência e esperança prometem ecoar pelas ruas de Curitiba.