Por Marcello Sampaio – Direto da Redação | Tribuna da Cidade | Especial Cidades
Os supermercados brasileiros passaram por uma transformação radical nos últimos 40 anos. Se antes as compras eram feitas com paciência, anotadas em caderneta e pagas no fim do mês, hoje a rotina é bem diferente: passamos os produtos no caixa automático, usamos aplicativos para receber descontos e até fazemos compras sem sair de casa.


A modernização do varejo, com a chegada dos leitores de código de barras, das etiquetas eletrônicas e das plataformas digitais, mudou a relação do consumidor com o supermercado.
“Hoje fazemos tudo com pressa. Vamos de carro, pegamos os produtos com rapidez e, muitas vezes, nem passamos por um caixa humano”, conta Marcelo Alves, 34 anos, engenheiro, que prefere o autoatendimento.
“Na época da minha mãe, ela ficava horas escolhendo tudo. Era quase um passeio.”
Do fiado ao cartão de crédito
No passado, o pagamento no supermercado era, muitas vezes, uma questão de confiança. Os clientes anotavam as compras na famosa caderneta e pagavam no fim do mês, uma prática quase impensável nos dias atuais.
A digitalização trouxe outras possibilidades, mas também eliminou o contato pessoal. O caixa de supermercado, que antes conhecia os clientes pelo nome, agora foi, muitas vezes, substituído por máquinas e totens de pagamento.
“Antigamente, eu conversava com os funcionários do mercado, eles me ajudavam a escolher. Hoje, tudo ficou frio, automático”, afirma Dona Celina Rodrigues, 65 anos, moradora do bairro Mercês.

Produtos que marcaram época
As prateleiras dos anos 80 tinham itens que sumiram ou mudaram de forma: o Nescau com tampa de alumínio, o sabão Omo vendido em lata, o refrigerante Crush, o sorvete Yopa e o guaraná Taí. Muitos consumidores ainda recordam com saudade do tempo em que promoções eram divulgadas em encartes impressos e comerciais com jingles grudentos.
“Eu me lembro que a gente esperava o anúncio no jornal para ir ao mercado no dia certo. Hoje as promoções chegam no celular”, conta Marina Souza, 49 anos, gerente de loja.
O impacto das mudanças
O sociólogo André Palhares destaca que a evolução do consumo nos supermercados reflete mudanças sociais e culturais.
“O consumo deixou de ser um evento social e passou a ser uma atividade automatizada. Ganho de tempo, sim, mas talvez tenhamos perdido um pouco da experiência de comunidade”, avalia.
Hoje, com opções como compras por aplicativo, entrega rápida e caixas eletrônicos, a praticidade venceu a paciência. Mas a memória afetiva dos supermercados antigos ainda resiste em quem viveu essa transformação.
As gerações mais jovens dificilmente entenderão o valor de carregar uma caderneta ou de pagar com dinheiro contado. O supermercado, que era quase uma extensão da vizinhança, tornou-se uma engrenagem eficiente da vida moderna — sem, porém, o mesmo calor humano.
