Uma denúncia de grande impacto agitou os bastidores da política curitibana nesta quinta-feira (8). O Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu a cassação do registro da chapa do prefeito Eduardo Pimentel (PSD) e de seu vice, Paulo Martins, eleita nas eleições municipais do ano passado. O motivo? Um suposto abuso de poder político e de autoridade, envolvendo um jantar de arrecadação de campanha no tradicional restaurante Madalosso.
Segundo o parecer assinado pela promotora Cynthia Maria de Almeida Pierri, houve coação de servidores públicos municipais para compra de convites do evento, que variavam de R$ 750 a R$ 3 mil. O episódio, ocorrido em setembro de 2024, teria como objetivo angariar fundos para a campanha da chapa governista. De acordo com a denúncia, funcionários da prefeitura teriam sido pressionados a participar do jantar como demonstração de apoio ao projeto político do PSD.
Pimentel nega irregularidades: “Evento foi do partido, não da campanha”
O prefeito Eduardo Pimentel não demorou a responder às acusações. Em nota oficial, rechaçou qualquer envolvimento da campanha com suposta coação e afirmou que o evento foi organizado exclusivamente pelo partido, sem vínculo direto com a estrutura de campanha.
“Repudio toda e qualquer atitude que possa configurar ameaça ou constrangimento a servidores públicos. O evento em questão foi organizado pelo PSD e não pela candidatura, que usou apenas recursos do Fundo Eleitoral e doações de pessoas físicas no limite da lei.”
Ainda segundo Pimentel, a manifestação do MPE deve ser vista como um parecer técnico e não uma decisão judicial. Ele afirma estar tranquilo quanto à apuração dos fatos e confiante no arquivamento da ação.
A denúncia partiu da candidata derrotada Cristina Graeml
A ação que motivou o parecer do Ministério Público foi impetrada pela jornalista e ex-candidata à Prefeitura de Curitiba Cristina Graeml, que disputou o pleito pelo PMB em 2024 e atualmente está filiada ao Podemos. A denúncia sustenta que houve uso da máquina pública para beneficiar a campanha de Pimentel, configurando vantagem indevida no processo eleitoral.
A promotora Cynthia Pierri foi categórica ao apontar indícios de desvio de finalidade no uso do poder público e violação da igualdade entre os candidatos. No parecer, ela vai além: pede não apenas a cassação da chapa Pimentel/Martins, mas também a inelegibilidade do atual prefeito e do ex-prefeito Rafael Greca, por suposta conivência e envolvimento direto no episódio.
Jantar da discórdia: evento de arrecadação vira pivô de crise
O polêmico jantar realizado em 3 de setembro de 2024, no Madalosso, teria sido planejado como um evento festivo de arrecadação para a campanha do PSD. Contudo, a promotoria sustenta que servidores teriam sido coagidos a adquirir ingressos, num cenário que levanta suspeitas de pressão institucionalizada.
A acusação lança dúvidas sobre os limites entre o que é mobilização partidária legítima e o que poderia configurar abuso de estrutura pública em benefício eleitoral, um debate que promete tomar conta do noticiário político nos próximos dias.
Próximos passos: Justiça Eleitoral analisará o caso
O parecer do Ministério Público será encaminhado agora para a Justiça Eleitoral, que decidirá se aceita ou não o pedido de cassação. Caso a decisão seja favorável ao MPE, Pimentel e seu vice poderão recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR) e, posteriormente, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
O cenário ainda está em aberto, mas o caso já se mostra como a mais grave ameaça judicial ao atual mandato de Eduardo Pimentel, que até então vinha mantendo uma gestão de transição em clima de continuidade com a era Rafael Greca.
Análise: crise judicial pode reconfigurar corrida municipal em Curitiba
O pedido de cassação da chapa vencedora reacende as tensões no cenário político curitibano e pode ter efeitos devastadores para o projeto de poder do PSD na capital. Se confirmadas as suspeitas, a imagem de Pimentel — até então construída sobre a gestão técnica e a continuidade — poderá ser duramente afetada, abrindo espaço para novas lideranças da oposição.
O caso também projeta novas luzes sobre a atuação de Cristina Graeml, que, mesmo derrotada nas urnas, se reposiciona como principal opositora institucional do atual governo municipal.
Marcello Sampaio
Editorial Política em Pauta – Tribuna da Cidade