Por Marcello Sampaio – Coluna Plantão Policial
Com colaboração da Rádio Onda Nova e do Grupo GVPCom de Comunicação
Uma suposta “harmonização peniana”, com promessa de aumento de até 5 centímetros e custo até 86% mais baixo que o praticado por médicos habilitados, levou à prisão o fisioterapeuta Darlan Carlos, na última segunda-feira (7), em Curitiba. Ele é acusado de exercício ilegal da medicina, falsificação de medicamentos e uso de substâncias proibidas em procedimentos invasivos realizados sem qualquer controle sanitário.
A prática, que mescla estética íntima e manipulação emocional, era promovida por Darlan nas redes sociais, onde acumulava mais de 10 mil seguidores e se apresentava como especialista em disfunção erétil e ejaculação precoce — áreas que exigem formação médica e registro no Conselho Regional de Medicina (CRM), o que ele não possui.
“Harmonização peniana” a R$ 4 mil: o preço da ilusão
Os procedimentos eram oferecidos entre R$ 4 mil e R$ 4,5 mil, valor bastante inferior ao praticado por profissionais legalmente habilitados, que pode ultrapassar R$ 30 mil. A promessa: aumentar em até 5 cm o comprimento do órgão genital e devolver a autoestima aos homens.
Em vídeos publicados recentemente, Darlan tentava convencer os interessados com falas como:
“Sim! É totalmente seguro. O procedimento é feito com uma cânula sem ponta, que permite a aplicação do ácido hialurônico por toda a região peniana sem causar lesão. Se algo der errado, usamos a hialuronidase, o antídoto. Isso torna tudo reversível.”
No entanto, foi justamente o uso da hialuronidase manipulada, substância proibida para preenchimento intradérmico, que levantou o alerta da Vigilância Sanitária. Um paciente que se submeteu ao procedimento entre junho e julho de 2023 denunciou o profissional após desenvolver necrose no órgão genital. Ele ainda está em tratamento para conter os danos provocados pela aplicação indevida.
Flagrante e clínica interditada: seringas em mochila, lixo hospitalar comum e produtos vencidos
A prisão de Darlan ocorreu em flagrante, no momento em que atendia um paciente que viajou mais de 1.300 km, de Goiás até Curitiba. O consultório ficava em uma clínica de fisioterapia pélvica na Rua Conselheiro Laurindo, no centro da capital paranaense.
A cena encontrada pelas autoridades sanitárias e policiais foi alarmante: seringas e agulhas transportadas em mochilas, Botox vencido, anestésicos sem registro, cânulas e ácido hialurônico sem procedência, além de gazes com sangue espalhadas pelo local. O lixo hospitalar era descartado em recipientes comuns, sem nenhum cuidado com o risco de contaminação.
A clínica operava sem licença sanitária para a realização de procedimentos invasivos e foi imediatamente interditada pela Vigilância Sanitária de Curitiba.
Manobra para blindagem judicial: termo de consentimento irregular
Segundo a delegada Aline Manzatto, Darlan fazia com que os pacientes assinassem termos de consentimento nos quais constava que os produtos utilizados não tinham registro na Anvisa. A estratégia visava impedir que as vítimas procurassem reparação judicial, mesmo que tivessem complicações. “Isso prova que ele agia de forma dolosa, consciente da ilegalidade do que fazia”, afirmou a delegada.
O próprio Darlan declarou ter atendido mais de 500 homens, incluindo pacientes do Brasil, Estados Unidos, Austrália, Espanha e Portugal. Além de Curitiba, ele realizava atendimentos em São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, sem qualquer registro ou autorização legal.
Consequências e responsabilização
A Polícia Civil do Paraná indiciou o fisioterapeuta pelos crimes de:
-
Exercício ilegal da medicina;
-
Falsificação de medicamentos;
-
Armazenamento e venda de produtos impróprios para consumo.
As penas somadas podem ultrapassar 22 anos de reclusão.
A delegada Manzatto alertou para os riscos envolvidos: “Sem condições sanitárias mínimas, esses procedimentos colocavam em risco a saúde dos pacientes. A necrose genital é apenas uma das possíveis consequências. Há riscos de infecções sistêmicas graves, lesões permanentes e até amputação”.
O que dizem os órgãos oficiais
Vigilância Sanitária de Curitiba:
“Foram encontradas inúmeras irregularidades. A clínica funcionava sem licença, armazenava produtos vencidos e sem registro, além de descartar resíduos infectantes no lixo comum. A interdição foi imediata.”
CREFITO-8 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 8ª Região):
“Repudiamos veementemente qualquer prática que coloque em risco a saúde da população. O profissional possuía registro em Londrina, mas não comunicou sua mudança para Curitiba. Até então, não havia denúncias formais. Estamos colaborando com as investigações.”
A Coluna Plantão Policial continuará acompanhando os desdobramentos do caso, que escancara a fragilidade dos mecanismos de fiscalização sobre o uso da estética como fachada para procedimentos clandestinos de alto risco. O caso de Darlan Carlos é mais do que uma infração profissional: é um alerta sobre como a vaidade, quando manipulada por charlatães, pode custar caro — e até mutilar.