Impasse na data-base: proposta de reajuste da Prefeitura de Araucária frustra sindicatos e esquenta bastidores políticos

Por Marcello Sampaio – Coluna Política em Pauta | Jornal e Portal Tribuna da Cidade

Na manhã desta quarta-feira, 14 de maio, o Salão Nobre da Prefeitura de Araucária amanheceu com as portas cerradas e os ânimos exaltados. Lá dentro, enquanto o café esfriava sobre a mesa, membros do alto escalão do Executivo municipal travavam um embate silencioso com os representantes dos sindicatos SIFAR e SISMMAR, que defendem os direitos do funcionalismo público. A reunião marcou a etapa mais aguardada da mesa de negociação da data-base 2025, mas terminou sem acordo – e com muitos bastidores agitados.

A Prefeitura, depois de semanas de expectativa, apresentou sua proposta oficial: um reajuste de 5,32% nos salários dos servidores, percentual que corresponde ao acumulado do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) dos últimos 12 meses. De quebra, propôs um aumento fixo de R$ 200,00 no auxílio-alimentação, atualmente em R$ 1.100,00 – o que representa um acréscimo de 18,18%.

A resposta dos sindicatos veio com a frieza de quem não aceita migalhas. A proposta ficou bem abaixo do que SIFAR e SISMMAR reivindicam: 20% de reajuste salarial e 10% no auxílio. A categoria também cobra pautas estruturais como reestruturação do Departamento de Saúde Ocupacional (DSO), alterações no controle por ponto biométrico e a regulamentação do teletrabalho para profissionais do magistério.

A reunião terminou sem acerto, com a promessa de novo encontro em 21 de maio. Até lá, as entidades sindicais realizarão assembleias com suas bases para deliberar sobre uma possível contraproposta – e não está descartada a convocação de manifestações e até greve, caso as negociações não avancem.

Bastidores quentes e articulações no Legislativo

Nos corredores da Câmara Municipal, a discussão sobre a data-base começa a movimentar os gabinetes. Alguns vereadores da base governista avaliam que a proposta do Executivo é “responsável” e “possível”, principalmente diante do impacto orçamentário. A Secretaria Municipal de Finanças estima que a implementação dos 5,32% de reajuste e o aumento do auxílio custariam R$ 47,1 milhões por ano aos cofres públicos.

“O prefeito está fazendo o que é prudente. Não podemos comprometer o equilíbrio fiscal por populismo sindical”, confidenciou um vereador próximo ao gabinete do prefeito Luiz Gustavo Botogoski.

Por outro lado, parlamentares de oposição e independentes afirmam que o funcionalismo público merece mais do que apenas a reposição inflacionária. “É preciso considerar a defasagem histórica, o aumento da demanda de trabalho e o sucateamento de setores essenciais como saúde e educação. Um reajuste maior é mais que justo: é necessário”, disse uma vereadora ligada à educação.

Entre a política e a pressão popular

Nos bastidores, há quem diga que o Executivo já esperava o impasse. Fontes da Tribuna da Cidade afirmam que a proposta de 5,32% foi calculada com margem para uma possível elevação até o teto de 7%, desde que isso se transforme em moeda de troca política no Legislativo — principalmente no ano pré-eleitoral.

A expectativa no núcleo do governo é de que a base aliada na Câmara segure a discussão para garantir tempo de articulação. Um projeto de lei com o reajuste precisa de duas votações para ser aprovado, e a ideia é que tudo esteja sacramentado até o fim da primeira quinzena de junho, o que permitiria a aplicação já na folha de pagamento do mês seguinte.

O que dizem os servidores

Nas portas das unidades de saúde, escolas e repartições públicas, o clima é de frustração. “Eles falam de responsabilidade fiscal, mas esquecem da nossa responsabilidade social. O que ganhamos mal cobre o básico. A inflação da feira, do remédio, da gasolina, é muito maior que 5%”, desabafa Ana Paula Rocha, servidora da rede municipal há 12 anos.

“Só falam em números, mas esquecem das pessoas que fazem essa cidade funcionar. Isso não é aumento, é remendo”, afirma João Batista, auxiliar de serviços gerais.

Os sindicatos também não escondem a insatisfação. “A Prefeitura tem condições de oferecer um reajuste mais justo. Não estamos pedindo um favor, estamos exigindo respeito ao nosso trabalho”, declarou, em nota, a direção do SISMMAR. O SIFAR endossou a crítica, afirmando que a proposta do Executivo é “insuficiente e insensível”.

Fumaça preta no salão nobre

Com o impasse instalado, a cena se repete: como em um conclave sem fim, os representantes de ambos os lados saem pela porta dos fundos da Prefeitura, sem aceno branco de acordo.

A população, por enquanto, observa à distância — mas de olho nos próximos capítulos. Afinal, o desfecho da data-base 2025 terá impacto não só nos bolsos de milhares de trabalhadores públicos, mas também no jogo político que se desenha para 2026. E em Araucária, até a folha de pagamento tem peso eleitoral.

Enquanto isso, os servidores aguardam: com esperança, com cansaço e, cada vez mais, com pressa.

LinkedIn
Facebook
X
WhatsApp

Você também pode gostar: