Em Araucária, o uso político de cargos comissionados e empresas terceirizadas para acomodar aliados e apadrinhados políticos tem chamado a atenção de moradores e servidores públicos. A prática, embora comum em diversos municípios brasileiros, ganhou contornos preocupantes na atual gestão do prefeito Gustavo Botogoski.
Nos bastidores da política local, é cada vez mais comentado que indicações para funções terceirizadas são feitas por vereadores aliados e secretários, em troca de apoio político. A administração municipal nega a existência de favorecimentos, mas relatos da população e de funcionários de empresas contratadas pela Prefeitura sugerem o contrário.
Terceirizações em Alta, Concursos em Baixa
Desde a aprovação da Lei da Terceirização, em 2017, prefeituras como a de Araucária ampliaram o uso de empresas terceirizadas para funções antes destinadas a servidores concursados. Na teoria, isso deveria trazer mais eficiência e agilidade à administração pública. Na prática, abriu espaço para o famoso “cabide de empregos”.
Empresas de segurança, limpeza, transporte, jardinagem e até áreas administrativas estão entre as contratadas pela Prefeitura. O problema é que, segundo denúncias recorrentes, parte das vagas nessas empresas só estaria acessível a quem tem apadrinhamento político.
“Você manda currículo, mas se não tiver indicação, não consegue. Eu mesma fui informada que precisava falar com um vereador para ter chance”, afirma uma moradora do bairro Capela Velha, que pediu anonimato por medo de represálias.
Nomeações Questionadas
Recentemente, o prefeito Gustavo Botogoski criou novas secretarias e nomeou aliados políticos para cargos de secretário extraordinário. Embora a Prefeitura argumente que as nomeações seguem critérios técnicos, moradores questionam a real necessidade de novas estruturas administrativas.
“Enquanto faltam médicos em postos de saúde e escolas sofrem com a falta de professores, criam secretarias para assuntos que não têm impacto direto na vida da população. É um escárnio com o dinheiro público”, critica o morador Edson Ferreira, do bairro Fazenda Velha.
Falta de Concursos e Precarização do Serviço Público
A substituição de concursos por contratações via terceirizadas ou cargos comissionados também tem preocupado sindicatos e especialistas. Para o servidor de carreira aposentado Joaquim Silva, o impacto é direto na qualidade dos serviços prestados.
“Esses contratos criam uma rotação muito grande de funcionários, gente sem treinamento adequado, mal remunerada e que vive com medo de ser demitida. Isso prejudica diretamente a população”, afirma.
O Que Diz a Lei
Embora a legislação permita a terceirização em várias funções, ela proíbe que empresas contratadas pela administração pública direta exerçam atividades típicas de cargos estratégicos, como tomada de decisão e formulação de políticas públicas. Quando isso acontece, pode configurar improbidade administrativa e abuso de poder político, além de gerar ação civil pública por parte do Ministério Público.
Especialistas lembram que, se comprovado o uso das terceirizadas para fins eleitorais ou políticos, os envolvidos podem responder por crime eleitoral, com punições que incluem cassação de mandato e inelegibilidade.
A Voz da População
Diversos cidadãos entrevistados pela reportagem expressaram frustração com a forma como a gestão vem conduzindo o uso de recursos públicos.
“Parece que a Prefeitura virou uma agência de empregos para políticos e seus amigos. Nós, que pagamos impostos, ficamos com os serviços precários. É revoltante”, disse a comerciante Sandra Lopes.
Outro morador, José Henrique, completa: “A gente vota esperando mudança, mas o que vemos é mais do mesmo: cargos para os amigos e nada para o povo”.
Conclusão
A falta de transparência na contratação de terceirizadas e a criação de cargos comissionados questionáveis estão no centro do debate político em Araucária. A população clama por uma gestão mais eficiente, transparente e comprometida com o interesse público — algo que, na visão de muitos, a administração de Gustavo Botogoski ainda está longe de alcançar.
Reportagem Marcello Sampaio com apoio de servidores da PMA e população.