Por Marcello Sampaio – Coluna Agronegócio | Jornal Tribuna da Cidade
O algodão brasileiro é, hoje, reconhecido internacionalmente por sua alta qualidade e produtividade. De acordo com especialistas do setor e dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o Brasil é o 2º maior exportador da fibra no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e o 4º maior produtor global, com uma produção estimada em mais de 3 milhões de toneladas por safra.
Com 92% da produção concentrada nos estados do Centro-Oeste, especialmente no Mato Grosso e na Bahia, o país vem investindo cada vez mais em tecnologia, rastreabilidade e sustentabilidade para se manter competitivo no cenário internacional. Segundo a Souza Lima Cotton, em publicação recente, essa excelência na lavoura e no beneficiamento já faz com que o algodão brasileiro seja reconhecido como “um dos melhores do mundo”.
Obstáculos que desafiam o setor
Apesar dos avanços, o setor algodoeiro enfrenta uma série de desafios internos e externos. Entre os principais entraves está a concorrência crescente com as fibras sintéticas, especialmente o poliéster, que hoje responde por cerca de 65% de toda a produção têxtil mundial. O algodão, por ser natural e demandar mais insumos, tem um custo de produção significativamente mais alto, o que pressiona as margens dos produtores.
Além disso, o mercado nacional tem sofrido com a entrada massiva de roupas importadas, especialmente da Ásia, o que compromete a valorização da cadeia produtiva interna. Estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que cerca de 20% das roupas comercializadas no Brasil são importadas, muitas vezes com preços que inviabilizam a concorrência com o produto nacional.
Mercado internacional e logística
O algodão brasileiro compete com gigantes como China, Índia e EUA, que contam com fortes políticas de subsídios e vantagens logísticas, como portos mais acessíveis e transporte ferroviário eficiente. No Brasil, a dependência do modal rodoviário e a limitação de estrutura portuária encarecem o escoamento da produção, impactando diretamente o custo final do produto exportado.
Segundo levantamento da Abrapa, mais de 70% do algodão exportado pelo Brasil passa pelos portos de Santos (SP) e de Salvador (BA). Essa concentração gera gargalos logísticos e aumenta o tempo de embarque. A diversificação dos corredores de exportação, incluindo os portos do Norte e Nordeste, tem sido apontada como fundamental para reduzir os custos e ampliar a competitividade.
Clima, tecnologia e acesso às inovações
Outro ponto crítico é a dependência de boas condições climáticas. Chuvas em excesso na fase de colheita ou longos períodos de seca podem comprometer a qualidade da fibra. Ainda que o Brasil tenha se destacado pela adoção de tecnologias de ponta no campo — como colheitadeiras modernas, rastreamento por QR code e monitoramento via satélite — muitos produtores ainda enfrentam dificuldades de acesso a sementes geneticamente modificadas e sistemas de irrigação avançados, especialmente os pequenos e médios.
Depoimentos do campo
Para o produtor Cláudio Ramos, de Luís Eduardo Magalhães (BA), os avanços são notáveis, mas é preciso mais apoio para manter a competitividade. “O algodão brasileiro é referência em qualidade, mas nosso custo de produção é muito alto. A logística pesa, o frete encarece tudo. Precisamos de mais investimentos em ferrovias e incentivos à produção”, afirma.
Já a produtora Leila Barbosa, de Primavera do Leste (MT), reforça a importância de políticas públicas para equilibrar o jogo com os concorrentes internacionais. “Lá fora, os produtores têm acesso a subsídios, linhas de crédito e seguro agrícola. Aqui, muitas vezes a gente enfrenta o risco sozinha. Isso precisa mudar”, destaca.
Perspectivas e caminhos para o futuro
Com o aumento da demanda mundial por produtos sustentáveis, o algodão brasileiro tem a chance de se posicionar ainda mais fortemente como fornecedor estratégico. Programas de certificação, como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), são exemplos de como o setor tem investido em rastreabilidade e práticas ambientalmente corretas.
A ampliação da infraestrutura logística, a abertura de novos mercados e o incentivo à industrialização interna da fibra são caminhos possíveis para reduzir a dependência de exportações de matéria-prima e agregar valor à produção nacional.
Apesar dos desafios, o setor segue confiante. “Temos tecnologia, know-how e produto de excelência. O que precisamos é de políticas que fortaleçam a cadeia e protejam o produtor”, conclui o presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato.
Com isso, o Brasil reafirma sua importância estratégica no cenário agrícola mundial e continua em busca de soluções que garantam o fortalecimento de uma das culturas mais nobres e desafiadoras do agronegócio.
Reportagem: Marcello Sampaio – Coluna Agronegócio | Jornal Tribuna da Cidade