Por Marcello Sampaio – Coluna Agronegócio | Jornal Tribuna da Cidade & Rádio Onda Nova (www.radioondanova.com.br)
O Paraná se prepara para dar um novo salto no financiamento agrícola com o anúncio de até cinco novos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agro (Fiagros). O modelo, que combina recursos públicos e privados com foco no desenvolvimento rural e fortalecimento da agroindústria, promete transformar o acesso ao crédito no campo e consolidar o estado como referência nacional em soluções via mercado de capitais para o agronegócio.
Primeiro Fiagro já movimentou R$ 2,5 bilhões
Lançado em dezembro de 2024, o primeiro Fiagro paranaense — sob gestão da Suno Asset Management — foi um marco: com aporte inicial de R$ 350 milhões da Fomento Paraná, o fundo superou rapidamente a meta inicial de captação de R$ 2 bilhões, alcançando R$ 2,5 bilhões em provisões. Os recursos foram destinados, prioritariamente, a projetos de infraestrutura agrícola, armazenagem e irrigação — gargalos históricos da produção rural.
Segundo o governador Carlos Massa Ratinho Junior, o sucesso do modelo se deve à competitividade dos juros. “Oferecer crédito a 9% ao ano, em um mercado onde taxas superam 14%, é um passo fundamental para democratizar o investimento no agro. Isso mostra que o Paraná está à frente, inovando em políticas públicas”, declarou.
R$ 2 bilhões já reservados para os novos fundos
Para os próximos meses, o governo estadual já reservou R$ 2 bilhões em recursos públicos para alavancar a criação dos novos Fiagros, que poderão atingir um volume total de R$ 14 bilhões em crédito para o setor. A expectativa é de que o modelo seja ainda mais atrativo, com a participação ativa de cooperativas, agroindústrias, investidores institucionais e produtores rurais.
“Estamos projetando uma nova fase para o agro do Paraná. Os Fiagros vão financiar soluções reais nas propriedades, como silos, sistemas de irrigação e transição energética. Isso vai ajudar o pequeno e o médio produtor a ganhar produtividade com sustentabilidade”, afirmou Norberto Ortigara, secretário estadual da Agricultura, em entrevista à Coluna do Agronegócio.
Modelo de alavancagem via FIDC Agro Paraná
A estrutura do fundo funciona por meio do FIDC Agro Paraná, que organiza os investidores em cotas subordinadas, mezaninas e sênior — sendo esta última a classe com menor risco e retorno mais previsível. A Fomento Paraná participa com R$ 150 milhões em cotas sênior, enquanto cooperativas e indústrias entram nas cotas subordinadas, fomentando o conceito de corresponsabilidade do setor na construção de uma agropecuária mais robusta.
“Com esse modelo, conseguimos criar um fundo saudável, que respeita o ciclo da produção agrícola. O produtor toma o crédito, aplica em um projeto estratégico e só começa a pagar quando a colheita vem”, explicou Claudio Stábile, presidente da Fomento Paraná.
Opinião dos produtores: ‘É um divisor de águas’
Maria Eduarda Zanetti, produtora de soja e milho em Palotina, no Oeste do Paraná, avalia que o novo modelo de financiamento “trouxe agilidade e previsibilidade ao caixa da propriedade”.
“Antes, enfrentávamos muita burocracia. Agora, com o Fiagro, conseguimos financiar um novo armazém com custo competitivo. Isso está nos preparando para crescer com segurança.”
João Ricardo Alves, pecuarista em Guarapuava, afirma que está negociando adesão ao novo fundo para investir em irrigação e energia solar.
“Essa linha é um divisor de águas. Podemos sair do papel de dependente para protagonistas do nosso crescimento.”
Indicadores do setor e expectativas
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Custo médio de juros Fiagro PR: 9% ao ano
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Captação total do 1º Fiagro: R$ 2,5 bilhões
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Expectativa de crédito total com novos fundos: até R$ 14 bilhões
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Área irrigada no Paraná hoje: 250 mil hectares
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Meta até 2030 (segundo IDR-Paraná): 500 mil hectares irrigados
Além de irrigação e armazenagem, os novos Fiagros devem contemplar setores estratégicos como a logística agrícola, bioenergia e agricultura de precisão, atendendo à crescente demanda por tecnologia e sustentabilidade no campo.
Paraná como referência nacional
Segundo análise do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), a tendência é que o modelo paranaense inspire políticas semelhantes em outros estados. “O uso dos Fiagros estaduais como instrumento de política pública está sendo monitorado por técnicos de Minas, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio Grande do Sul”, disse o economista Luiz Fernando Avansini, do Ipardes.
Conclusão: agro mais forte e conectado ao futuro
Com os novos fundos, o governo do Paraná fortalece uma agenda que une inovação financeira, desenvolvimento regional e protagonismo rural. A estratégia deve impulsionar a geração de empregos, atrair investimentos e manter o estado na vanguarda do agronegócio nacional — mesmo diante de desafios climáticos e geopolíticos.
Matéria produzida por Marcello Sampaio, jornalista responsável pela Coluna do Agronegócio no Jornal Tribuna da Cidade e na Rádio Onda Nova (www.radioondanova.com.br).