Por Marcello Sampaio – Coluna Política em Pauta | Jornal Tribuna da Cidade
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reuniu-se com o chanceler paraguaio Rubén Ramírez Lezcano na última sexta-feira (11), em Buenos Aires, na Argentina. O encontro aconteceu à margem dos compromissos do Mercosul e teve como foco as denúncias de espionagem brasileira contra autoridades do Paraguai, reveladas recentemente.
Segundo comunicado oficial divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, o Brasil se comprometeu a entregar um relatório completo sobre o caso, que está sendo apurado por autoridades brasileiras. “O Brasil está em processo de ampla investigação para esclarecer os graves fatos ocorridos entre junho de 2022 e março de 2023, aguardando os resultados”, informou a chancelaria paraguaia.
Crise de confiança entre os países vizinhos
As denúncias vieram à tona após reportagem apontar que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria monitorado membros do governo paraguaio durante a gestão de Jair Bolsonaro e Mario Abdo Benítez, então presidente do Paraguai. A operação teria sido encerrada somente em março de 2023, após o novo diretor da Abin, nomeado pelo presidente Lula, tomar ciência do caso.
O atual presidente do Paraguai, Santiago Peña, que tomou posse em agosto de 2023, afirmou à imprensa de seu país que não recebeu nenhuma informação oficial sobre o tema por parte de seu antecessor.
A denúncia acendeu um alerta no Congresso paraguaio. O Senado aprovou a formação de uma comissão parlamentar conjunta com a Câmara dos Deputados para investigar o suposto monitoramento ilegal promovido por agentes brasileiros.
Tentativa de reaproximação diplomática
Durante a reunião bilateral, Mauro Vieira e Rubén Ramírez reforçaram a importância de manter os princípios da diplomacia e da cooperação mútua entre Estados soberanos. Ambos destacaram a necessidade de reorientar os vínculos bilaterais com base no respeito institucional e na busca de soluções construtivas para as divergências.
“O momento exige maturidade diplomática e foco nos temas que unem os dois países”, afirmou uma fonte diplomática que acompanha o caso. Entre esses temas, ganha destaque o impasse na negociação do novo Anexo C do Tratado de Itaipu, que está paralisado. O documento estabelece as bases financeiras da hidrelétrica binacional e deveria ter sido revisto ainda no primeiro semestre deste ano.
Com a crise de confiança instalada, há quem veja um risco real de atraso nas tratativas, o que poderia afetar diretamente os interesses energéticos e comerciais de Brasil e Paraguai.
Marcello Sampaio é jornalista e assina a coluna Política em Pauta no Jornal Tribuna da Cidade.