Por Marcello Sampaio
Apesar do anúncio de estabilidade na cesta de alimentos típicos da Páscoa, o consumidor sente no bolso o amargo sabor dos preços altos — principalmente no item mais simbólico da data: o ovo de chocolate.
Dados divulgados nesta segunda-feira (14) pela FecomercioSP mostram que o preço dos chocolates, incluindo ovos de Páscoa, disparou 18,5% em relação ao ano passado, enquanto o preço da carne vermelha, como o contrafilé e o alcatra, subiu muito menos — apenas 6,8% no acumulado anual, segundo o IPCA (IBGE).
Ovo de Páscoa mais caro que churrasco
Para muitos consumidores, comprar um ovo de chocolate de 350g — vendido a preços que variam entre R$ 79,90 e R$ 129,00 — já é mais caro do que adquirir 1,5 kg de alcatra ou picanha, suficiente para um bom churrasco familiar.
“Com o valor de dois ovos de Páscoa, eu consigo fazer um churrasco para toda a família”, comenta a operadora de caixa Jéssica Martins, que decidiu trocar os chocolates por uma boa carne assada neste feriado.
O motorista de aplicativo Carlos Henrique, indignado, completou:
“Os preços estão um absurdo. Comprei dois ovos pequenos para os meus filhos e paguei quase R$ 200. Isso dá para fazer mercado pra semana inteira. Mas fazer o quê? A pressão dos filhos vence.”
Supermercados e promoções: alívio ou armadilha?
Nos supermercados, a cena se repete. As gôndolas repletas de ovos reluzentes atraem os olhares, mas os preços assustam. Sandra Oliveira, dona de casa, relata:
“A gente tenta aproveitar as promoções de PIX ou os dias com desconto, mas a verdade é que os preços subiram demais. Nem as marcas populares escaparam.”
As redes tentam aliviar o impacto com promoções na linha de pescados — tradição da Semana Santa. A tilápia congelada sai por R$ 18,89 o pacote de 800g nos Armazéns da Família, enquanto atum e sardinha também estão com preços reduzidos. Mas mesmo com isso, a comparação com o valor dos ovos continua revoltante para muitos.
Mercado explica: colheita internacional e escassez
A FecomercioSP explica que a alta dos chocolates se deve à quebra de safra em países produtores de cacau, como Gana, o que impactou o preço do produto mundialmente. Mas para os pequenos comerciantes e chocolaterias locais, a realidade é outra:
“É impossível competir com os preços das grandes marcas e repassar o custo sem perder cliente”, diz Marcos Antunes, dono de uma pequena loja de chocolates artesanais.
Páscoa cara, tradição ameaçada
O aumento nos preços e o custo-benefício duvidoso dos ovos de Páscoa já começa a mudar hábitos. Em Curitiba, muitos consumidores trocaram ovos por barras de chocolate ou doces caseiros. Nas tradicionais Feiras Especiais das praças Osório e Santos Andrade, artesãos e produtores locais relatam vendas mais voltadas para lembrancinhas e doces artesanais.
“Este ano vendi mais cestinhas de doces e barras personalizadas do que ovos”, conta Luciana Lopes, expositora na feira.
Linha do Tempo da Páscoa 2025
-
Janeiro: Índices de inflação indicam alta no preço do cacau.
-
Fevereiro: Chocolaterias e supermercados ajustam preços.
-
Março: Pesquisa aponta ovos mais caros do que carnes nobres.
-
Abril: Cesta da Páscoa quase estável, mas chocolate e alho lideram altas.
-
Semana Santa: Consumo de carne branca cresce, feiras e armazéns populares registram alta procura.
A Páscoa de 2025 já entrou para a história como uma das mais caras no setor de chocolates — e mais polêmicas no comparativo com os preços da carne. Se antes a tradição falava mais alto, agora quem decide é o bolso.
Créditos: Reportagem de Marcello Sampaio