Por Marcello Sampaio e Isabela Salustiano | Jornal Tribuna da Cidade
Com a alta da inflação, juros elevados e um cenário econômico instável, negociar o valor do aluguel tornou-se uma necessidade para muitos brasileiros — e uma realidade cada vez mais comum no mercado imobiliário. Seja pela perda de renda, pela redução do poder de compra ou pelo aumento do custo de vida, os locatários estão recorrendo à conversa e ao bom senso para manter um teto com condições mais acessíveis. Mas até onde vai o poder de negociação de um inquilino?
Economia e mercado: os fatores que mexem no bolso
De acordo com o economista Ricardo Fernandes, especialista em mercado imobiliário, “a negociação do aluguel é extremamente sensível ao contexto econômico. Em tempos de crise, há uma tendência de flexibilização por parte dos proprietários, sobretudo quando há excesso de oferta e redução na procura.”
Isso ocorre porque, com mais imóveis disponíveis e menos pessoas dispostas ou capazes de arcar com valores altos, os donos de imóveis preferem manter um bom inquilino do que arriscar meses de vacância.
Por outro lado, Fernandes alerta: “Em regiões muito procuradas ou com pouca oferta, como áreas centrais ou bairros nobres, o poder de barganha dos locatários é menor. O dono sabe que pode alugar rapidamente, mesmo sem conceder descontos.”
Localização: o fator que muda tudo
Segundo a corretora de imóveis Vanessa Prado, da zona sul de Curitiba, “a localização continua sendo um dos principais determinantes do valor do aluguel. Imóveis próximos a universidades, hospitais, metrôs e centros comerciais são mais valorizados e disputados.”
Ela destaca que mesmo imóveis pequenos, mas bem localizados, mantêm alta procura. “Em contrapartida, casas ou apartamentos em regiões mais afastadas ou com pouca infraestrutura podem ter redução no valor e mais espaço para negociação.”
Depoimentos de quem vive o desafio
Para o estudante Carlos Menezes, 24, a negociação foi essencial para conseguir manter o aluguel de seu apartamento no bairro Rebouças. “Expliquei minha situação financeira para o proprietário, levei dados sobre o índice de inflação e pedi um reajuste menor do que o previsto. Ele entendeu e aceitou.”
Já a administradora de empresas Luciana Rocha, 38, teve menos sorte. “Moro no Batel e, mesmo com dois imóveis semelhantes no prédio desocupados, a proprietária se recusou a reduzir o valor. Acabei saindo e encontrei algo mais em conta em Água Verde.”
A lei está do lado do diálogo
A Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/1991), atualizada em 2023, determina que reajustes podem ser discutidos entre as partes e ajustados por aditamento contratual. Caso o contrato tenha ao menos três anos de vigência, é possível ingressar com ação revisional de aluguel na Justiça.
O advogado Bruno Tavares, especialista em direito imobiliário, reforça que o ideal é sempre o acordo extrajudicial. “Um bom contrato e o bom senso evitam litígios. A conversa franca, com argumentos baseados em dados reais, é o melhor caminho.”
Estratégias eficazes de negociação
Especialistas apontam algumas práticas que aumentam as chances de êxito nas negociações:
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Estudo de mercado: saber quanto imóveis semelhantes estão sendo alugados na região;
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Contrato de longo prazo: pode ser atrativo para o locador, que prefere estabilidade;
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Pontualidade e histórico positivo: um inquilino que paga em dia tem mais moral na hora de pedir uma revisão;
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Dados econômicos: usar índices de inflação, Selic e IPCA para contextualizar a solicitação.
Quando o contrato vira parceria
Para o síndico e gestor de condomínios André Moraes, “o aluguel deixou de ser uma relação puramente comercial. Hoje, inquilino e proprietário são quase parceiros. A estabilidade é vantajosa para os dois.”
Em tempos difíceis, mais do que nunca, a palavra-chave é diálogo. E quando esse diálogo é baseado na empatia, no realismo e na transparência, todo mundo sai ganhando: o locador preserva seu investimento e o inquilino garante um lar.
Créditos: Jornal Tribuna da Cidade | Reportagem de Marcello Sampaio e Isabela Salustiano