Por Marcello Sampaio | Investigação exclusiva para a Tribuna da Cidade
Na noite de quarta-feira, 16 de julho de 2025, a polícia reforçou o alerta máximo para a captura de um dos criminosos mais temidos da Grande Curitiba. Trata-se de Kainan Wesley Batista Meira, 27 anos, apontado como líder de uma facção criminosa violenta, responsável por pelo menos 30 assassinatos brutais em cidades como Curitiba, Colombo e Almirante Tamandaré.
O caso chamou atenção nacional após a descoberta de que o crime motivador da trajetória de sangue de Kainan remonta à execução do próprio pai, Paulo Cesar Batista Meira, assassinado por falsos policiais civis em 2002. Na época, Kainan era apenas uma criança. A tragédia teria marcado profundamente sua vida — a ponto de, segundo as investigações, motivá-lo a formar sua própria organização criminosa.

Linha do tempo dos principais crimes atribuídos a Kainan Wesley
2002 – A origem da vingança: Dois homens vestidos como policiais civis invadem a casa da família Meira e executam Paulo Cesar Batista Meira. O crime permanece impune.
2017 a 2021 – Prisões e conexões no submundo: Kainan é preso por tráfico de drogas em Santa Catarina. Durante sua passagem pelo sistema prisional, amplia contatos com o crime organizado e monta a base de sua futura facção.
Janeiro de 2022 – Duplo homicídio em lava-car: Câmeras de segurança registram o assassinato de Marcelo Alves, proprietário de um lava-car no bairro Abranches, e de um cliente. O atentado é atribuído à facção de Kainan. Marcelo já havia sido jurado de morte.

Abril de 2025 – Execução de familiar: Um vídeo obtido pelas autoridades mostra Kainan esfaqueando brutalmente Jonas Ferreira de Moraes Andrade, seu próprio primo, enquanto ele rezava e implorava por perdão. O corpo nunca foi encontrado. Kainan acreditava que Jonas participou do assassinato de seu pai.
Modus operandi: crueldade extrema
As execuções lideradas por Kainan impressionam pela brutalidade incomum. Vítimas são torturadas, assassinadas com dezenas de facadas ou tiros, muitas vezes sob filmagens feitas pelos próprios criminosos. Uma de suas frases gravadas em vídeo ficou marcada: “Demorou 20 anos, seu lixo!”, dita enquanto atacava o primo, reforçando o objetivo pessoal de vingança.
O papel da facção e os crimes investigados
A organização liderada por Kainan atua nas regiões de limite entre Curitiba e Almirante Tamandaré, dominando áreas estratégicas do tráfico de drogas. Segundo o delegado responsável pelas investigações, Guilherme Donde, os integrantes da facção se passam por policiais, abordam vítimas, sequestram e executam brutalmente, com o mesmo padrão observado na execução do pai de Kainan em 2002.
Operações policiais e cerco ao líder
Em abril deste ano, mais de 80 policiais civis, com uso de helicópteros e cães farejadores, participaram de uma operação para desarticular o grupo. Dois comparsas de Kainan foram presos: Gabriel Oliveira Santos e outro investigado ainda não identificado publicamente. Outro comparsa, Lucas Bernardes Correia, continua foragido.
Apesar do cerco, Kainan Wesley continua foragido. Informações dão conta de que ele alterna esconderijos entre Curitiba, região metropolitana e interior de Santa Catarina, de onde continuaria ordenando execuções.

A resposta das autoridades
O secretário municipal de Segurança Pública, Aguiar, tem atuado junto às forças policiais para conter o avanço da criminalidade. As equipes da ROMU (Rondas Municipais) têm intensificado patrulhamento e monitoramento em áreas de risco, com apoio da Guarda Municipal e da Polícia Civil. A ação conjunta tem gerado resultados positivos, com aumento nas apreensões, denúncias e mapeamento das rotas do tráfico.
Depoimentos da população
Comerciantes e moradores da região norte de Curitiba, especialmente no bairro Abranches e imediações da Rodovia dos Minérios, relatam alívio com o reforço da presença policial, mas ainda vivem com medo:
“A gente via o pessoal armado passando de moto. Não sabíamos se era polícia ou bandido. Agora, com as viaturas da ROMU e os guardas aqui por perto, melhorou, mas ainda vivemos assustados”, conta Jurema, comerciante local.
“Esse rapaz [Kainan] parecia normal. Ninguém imaginava que ele pudesse ser tão cruel. O que ele fez com o primo dele… foi desumano”, relata um morador, sob anonimato.

A trajetória de Kainan Wesley é um caso emblemático de como traumas mal resolvidos podem gerar ciclos contínuos de violência e destruição. De filho traumatizado a líder de facção sanguinária, sua história expõe as falhas de um sistema que não protege nem recupera. Enquanto a polícia segue na caçada, a população da Grande Curitiba vive o reflexo do terror plantado há mais de duas décadas.

Esta é uma reportagem especial produzida com exclusividade pelo jornalista investigativo Marcello Sampaio, com apoio da equipe da Tribuna da Cidade.
