Assassinato de Rodrigo Boschen: Tragédia, revolta e a polêmica atuação de Renato Freitas no caso que abalou Curitiba
Por Marcello Sampaio – Tribuna da Cidade
O caso que envolve a morte brutal de Rodrigo da Silva Boschen, de 22 anos, após ser acusado de furtar chicletes e chocolates no supermercado Muffato, no bairro Portão, em Curitiba, continua gerando comoção e tensão social na capital paranaense. O episódio, que inicialmente chocou pela violência, agora se estende para o campo político e jurídico, especialmente após a polêmica atuação do deputado estadual Renato Freitas (PT), acusado de transformar o caso em um ato de oportunismo político e de incitar a prática de vandalismo contra o supermercado durante manifestações.
O crime: o que aconteceu?
Na noite de quinta-feira, 19 de junho, feriado de Corpus Christi, Rodrigo Boschen foi flagrado, supostamente, furtando chocolates e chicletes dentro da unidade do Muffato no bairro Portão. Câmeras de segurança registraram a perseguição realizada por funcionários da loja e por seguranças terceirizados, que seguiram Rodrigo pelas ruas do entorno do supermercado.

Segundo testemunhas e registros policiais, durante a perseguição, Rodrigo foi alcançado e violentamente agredido. Além dos funcionários, um motociclista que passava pelo local também participou das agressões. Imagens captadas por um motoboy, que se tornou uma das testemunhas-chave do caso, mostram três homens carregando Rodrigo desacordado. Na gravação, um dos agressores questiona: “Será que ele está morto?” e ouve como resposta: “Está só desmaiado.”
Após abandonarem o corpo de Rodrigo em uma rua deserta nas proximidades do supermercado, os agressores acionaram os bombeiros pelo telefone 192. Os socorristas chegaram ao local às 21h48, mas já encontraram Rodrigo sem vida. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) às 23h49 daquela mesma noite.
Os documentos da perícia preliminar indicaram lesões na região do pescoço e da face, consistentes com as agressões narradas pelas testemunhas. O boletim de ocorrência aponta que o jovem foi vítima de um golpe do tipo “mata-leão”, além de ter recebido pancadas na cabeça.
Quem era Rodrigo Boschen?
Rodrigo da Silva Boschen era um jovem trabalhador, empregado em uma multinacional em Curitiba. Morava com a mãe e quatro irmãos no bairro Pinheirinho, próximo ao supermercado Muffato onde tudo aconteceu. Relatos familiares apontam que Rodrigo frequentava o estabelecimento por causa da proximidade com sua casa. Ao contrário de informações iniciais que tentaram associá-lo a atividades criminosas, o jovem não tinha antecedentes graves, apenas um registro por posse de drogas para consumo próprio.

A família, devastada pela perda, se pronunciou por meio de seu advogado, Leonardo Mestre Negri:
“Neste momento de profunda dor, a família de Rodrigo está buscando compreender as circunstâncias do brutal crime que ceifou sua vida. Confiamos que as autoridades competentes irão apurar os fatos com rigor e celeridade, identificando os responsáveis e garantindo que sejam devidamente responsabilizados. Reiteramos nossa esperança na Justiça.”
A investigação
A Polícia Civil do Paraná está tratando o caso como homicídio doloso – quando há intenção de matar – e, até o momento, quatro pessoas foram diretamente implicadas nas investigações. Dois dos envolvidos são funcionários diretos do supermercado Muffato, um é terceirizado da área de segurança e o quarto é um motoboy que, segundo as investigações, passava pelo local e aderiu à perseguição e agressão.
O motoboy e o segurança terceirizado permanecem presos preventivamente. Um dos seguranças da loja foi preso, mas foi liberado em audiência de custódia. O outro segurança está foragido e é procurado pela polícia.
Câmeras de segurança, depoimentos de testemunhas e vídeos gravados no momento das agressões compõem o material que está sendo analisado pela Delegacia de Homicídios de Maior Complexidade (DHMC). O delegado Thiago Filgueiras, responsável pelo caso, reforçou que a investigação busca esclarecer com exatidão a dinâmica da morte e a participação individual de cada envolvido.
Protesto e a atuação controversa do deputado Renato Freitas
Na noite da última quarta-feira (25), familiares, amigos e apoiadores realizaram um protesto em frente ao supermercado Muffato do bairro Portão. O ato, inicialmente pacífico, durou cerca de 50 minutos, mas ganhou outro tom com a chegada do deputado estadual Renato Freitas (PT).
Vídeos amplamente divulgados nas redes sociais mostram o parlamentar inflamando a multidão com palavras de ordem e discursos que, segundo especialistas em segurança pública, ultrapassaram os limites de um protesto pacífico e passaram a incitar atos de vandalismo.
Durante o discurso, o deputado teria incentivado os manifestantes a “fazer justiça com as próprias mãos” e proferiu falas que, segundo análise de juristas, configuram incitação à violência, apologia ao crime e incentivo ao dano ao patrimônio privado. Testemunhas relataram que o grupo tentou invadir a loja e houve momentos de forte tensão entre manifestantes e seguranças da unidade.
Renato Freitas, conhecido por suas participações em protestos de alto impacto, novamente se envolveu em uma situação de potencial quebra de decoro parlamentar. Para especialistas ouvidos pelo Tribuna da Cidade, a atuação do deputado no caso Rodrigo Boschen parece ter extrapolado os limites do legítimo protesto político e se aproxima de um cenário de oportunismo e exploração midiática de uma tragédia.
Juristas alertam que, caso se confirmem os indícios de incitação ao crime, o parlamentar poderá responder por responsabilização jurídica e ética, podendo ser alvo de ações no Ministério Público e de representações na Assembleia Legislativa do Paraná.
Até o momento, Renato Freitas não apresentou uma defesa pública ou esclarecimento formal sobre as acusações de incentivo ao vandalismo, apesar da ampla repercussão do caso nas redes sociais e na imprensa local.
Nota do supermercado Muffato
O Super Muffato, por meio de seus advogados Elias Mattar Assad, Caroline Mattar Assad e Flávio W. Lins, afirmou em nota que repudia veementemente qualquer ato de violência e reforçou que as normas internas do supermercado sempre orientaram para que os funcionários e terceirizados atuem com a máxima cautela, sem o uso de violência.
Segundo a empresa, as agressões aconteceram fora das dependências da loja e sem autorização ou orientação da rede. O Muffato informou ainda que está colaborando integralmente com as investigações da Polícia Civil e reafirmou seu compromisso com a apuração rigorosa dos fatos.
Apesar dos questionamentos, o supermercado ainda não respondeu se irá manter ou rescindir o contrato com a empresa terceirizada de segurança Rota, responsável por um dos envolvidos nas agressões. A empresa Rota também foi procurada para comentar o caso, mas até o momento não se manifestou.
O caso continua em apuração
O inquérito policial deve ser concluído nos próximos dias e será fundamental para determinar com precisão quem foi o responsável direto pela morte de Rodrigo Boschen. O laudo oficial do Instituto Médico Legal (IML) deve esclarecer se a vítima morreu em decorrência do mata-leão, das agressões físicas ou de outra causa.
Enquanto a investigação prossegue, a sociedade curitibana segue dividida entre o sentimento de revolta pela morte de Rodrigo e a preocupação com o uso político e oportunista de tragédias que envolvem questões sociais complexas.
O caso também reacende o debate sobre a violência urbana, a segurança privada, os limites da legítima defesa patrimonial e a responsabilidade de lideranças públicas em momentos de comoção social.
